Dois aviões atérram forçadamente, como já dissemos, nuns terrenos denominados de Espinhaço de Cão (Bárrio das Patas), limite de Covões e Covão do Lobo e o facto constitue um espectaculo inedito, que levou ao local alguns milhares de curiosos das referidas freguesias e circunvisinhas.
Desta vila partiram, apos o conhecimento do facto, numerosas pessôas, em automoveis, bicicletes e outros meios de transporte contando se no numero d’estes pessôas da maior representação, desejosas, não só de presenciarem um espectaculo novo e interessante, mas tambem de oferecerem os seus serviços á tripulação.
O avião de bombardeamento nº 312, pilotado pelo alferes Silva Correia, tendo como mecanico Francisco Levi C. Dias que fora surpreendido por um espesso nevoeiro quando procedia a exercicios ou serviços da escola (obrigado por esta razão a perder tempo) viu-se sem gasolina, sendo forçado a procurar um campo de aterragem. Em busca d’ele evolucionou a minima altura, descobrindo então os terrenos denominados de Espinhaço de Cão, semeados de mato os quais utilisou para a descida.
Antes, porem, diz-se que o aparelho fez varias manobras sobre os terrenos adjacentes, no desejo de comunicar com os trabalhadores que por ali se entregavam á faina da lavoura, afim de procurar edentificar o local. Estes, porem, incultos e amedrontados, afastavam se procurando refugio, sem atingirem a intenção dos tripulantes da aeronáve.
A aterragem foi feita com pericia.
O aparelho apenas apresentava uma ligeira fenda n’uma das pás da helice, estrago que não impediria o avião de descolar, logo que pudesse ser abastecido de gasolina, para o que, imediatamente providenciou o seu piloto vindo ao telefone de Fébres.
Entretanto uma môle enorme de curiosos se juntava em tôrno do aparelho que a cada momento ía engrossando com novos grupos vindos das povoações proximas. Dentro de poucos minutos o campo dava a impressão d’uma feira, tal era o numero de pessôas ali reunidas. Covão do Lobo, Covões e lugares onde a noticia chegou, despovoaram-se. Eram homens, mulheres e crianças, figuras de todas as categorias e posições, admirando e examinando o aparelho, muitos recolhendo na objectiva das suas maquinas fotograficas, assunto tão raro no nosso meio.
Estava para descolar o avião, no meio de grande entusiasmo do publico, quando um ruído aereo anunciou a aproximação do aparelho 318, da mesma categoria, do Campo de Alverca a que, tambem pertencia o primeiro e que vinha em socôrro deste.
Após umas manobras de reconhecimento do terreno e correntes aereas, o aparelho fêz a sua aterragem, manobra que o publico acompanhou com o maior interesse e vibração.
O cêrco apertado que os curiosos fizeram á manobra, a ver aquele que melhor poderia observar o extranho espectaculo e um inesperado desnivel de terreno, fêz com que o avião chocásse com um grupo de bicicletes e sofresse avarias n’uma das azas.
No dia seguinte, 17, ás 10 horas, o 312 deslocava, seguindo rumo sul. O 318 ficou em reparação das avarias tendo levantado vôo pilotado pelo tenente Ferreira Ribeiro e mecânico Méco, na segunda feira ás 16 horas, por entre aclamações do pôvo que saudou entusiasticamente os aviadores.
A tripulação dos dois aparelhos foi carinhosamente acolhida pela população e levou, da nossa região as melhores impressões.
O piloto e o mecanico do 318, foram hospedes do Snr. P.e Angelino Marques Craveiro.
Covões e Febres tiveram, com este inesperado acontecimento, tres dias de festa.
Aos aviadores foram oferecidos por um grupo de senhoras, um ramo de flores, a cada, traduzindo a simpatia da região pelos herois do ar.
No domingo o campo improvisado foi visitado por mais de 5000 pessôas, vendo-se, ali improvisados varios estabelecimentos de cómes e bébes.

 

In Gazeta de Cantanhede, sábado, 27 de Fevereiro de 1937.